A saúde mental dos idosos
Janeiro é um mês dedicado à saúde mental e foi escolhido justamente por ser um momento onde as pessoas refletem sobre como foi o ano que terminou e como será o ano que se inicia. Muitos planos são feitos, mas a verdade é que deixamos de lado um importante aspecto: como anda a nossa saúde mental?
Um breve recorte da população idosa no Brasil
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada em 22/07/2022, pessoas com mais de 60 anos representam 14,7% de toda a população residente em nosso país. Em 2012 o grupo etário era de 22,3 milhões, em 2021, já somava 31,2 milhões de brasileiros. Um aumento de quase 40%.
O fato desperta cada vez mais a atenção das entidades governamentais, com políticas públicas que começam a ser pensadas de olho no futuro. Em 2030 teremos a 5ª maior população idosa do planeta. Um aumento muito significativo, que nos faz pensar além dos números.
Qual a qualidade deste envelhecimento? Como está a saúde mental dos idosos hoje? E o que podemos fazer agora para garantir uma qualidade de vida superior ao envelhecermos?
Os transtornos psiquiátricos que mais afetam os idosos
Com a mudança do perfil demográfico transicionando para uma população mais idosa, é de se esperar que as doenças crônicas, assim como o declínio sensorial físico e mental também aumentem.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), aponta que cerca de 20% das pessoas com mais de 60 anos apresentam algum transtorno mental ou emocional.
Entre os idosos, os maiores problemas de saúde mental podem ser agrupados em: demências, esquizofrenia, síndrome do pânico, transtorno de ansiedade, bipolaridade e depressão.
Não é a ideia inicial do post entrar em detalhes sobre cada um dos problemas. A ideia é entendermos que quase metade das demências e quase todos os transtornos psiquiátricos, como a depressão e a ansiedade, têm causas modificáveis. Ou seja, podem ser prevenidos.
As exceções ficam por conta da esquizofrenia e da doença de Alzheimer. Com vários fatores que causam alterações nos neurotransmissores e nos neurônios cerebrais, as patologias desafiam os limites do conhecimento médico. Apesar de fatores ambientais fazerem parte das condições e por consequência, o fator saúde mental, é incerto o peso em face da predisposição genética.
A demência, os transtornos mentais entre os idosos e o que podemos mudar
Os dados apontam que, no Brasil, 48% dos casos de demência podem ser atribuídos a 12 fatores de risco que são modificáveis. Esses fatores estão sob o controle direto ou indireto e se evitados, diminuirão muito as chances de desenvolvermos algum tipo de demência.
Os 12 fatores de risco modificáveis
Vale lembrar que alguns dos fatores fogem da capacidade individual, sejam eles devido às diferenças sociais, políticas públicas ou à mistura deles. Mas mesmo assim, os indivíduos têm um grande impacto e potencial para reduzir os riscos de demência.
Veja a lista dos 12 fatores modificáveis, de acordo com a Lancet Commission on dementia, prevention, intervention and care. A The Lancet é a revista médica mais influente do mundo, seus artigos são revisados por pares e comissões formadas por médicos de todo o mundo.
- Mantenha a sua pressão sistólica abaixo de 130 mm Hg a partir dos 40 anos de idade.
- Use e encoraje o uso de aparelhos auditivos já nos primeiros indícios de perda auditiva. Previna danos aos ouvidos oriundos de barulhos muito altos.
- Reduza a exposição a poluição ambiental e ao fumo passivo.
- Previna traumas na cabeça.
- Limite a ingestão de álcool. O abuso e consumo maior que 21 unidades de álcool por semana, aumentam o risco de demência.
- Não fume e apoie ações anti fumo. Parar de fumar diminui a chance de demência, mesmo se o vício for largado já em uma fase mais madura da vida.
- Alcance altos níveis de educação e conhecimento a partir da infância. Atividade mental retarda o aparecimento da demência.
- Evite a obesidade, sobretudo após os 40 anos.
- Evite diabetes.
- Evite ou trate a depressão.
- Mantenha contato e atividade social frequentes.
- Faça exercícios físicos regularmente.
Ainda de acordo com a publicação, nunca é tarde para mudar de hábitos, a redução na probabilidade de desenvolver demência diminui, mas as atitudes devem ser consideradas durante toda a vida, para as chances realmente serem diminuídas.
E como ficam a depressão e os outros transtornos que afetam a saúde mental?
A depressão é o transtorno mais frequente na terceira idade, ocupando o 1º lugar entre todas as faixas etárias. Se os 12 fatores de risco diminuem ou retardam as demências, o efeito deles sobre os outros transtornos mentais é ainda mais poderoso.
Extrapolando as demências, nos deparamos com o conceito de envelhecimento ativo, onde muitos outros fatores, mais focados no emocional e no social, entram em ação. Iremos fazer um post focado nesse assunto, mas o foco aqui é percebermos que a saúde mental é fruto, em boa parte, das atitudes que tomamos durante toda a vida.
A saúde mental é uma construção que começa muito antes da terceira idade
É muito importante dizer que não temos todos os fatores que determinam a saúde mental em nossas mãos.
É claro que o envelhecimento natural do organismo tem um papel importante na saúde mental de todos nós. Mas é fundamental entendermos o funcionamento da roda da vida, percebendo que as ações que tomamos ou não hoje, terão impactos diretos em nossa saúde futura, seja ela física ou mental.
Devemos fugir dos estereótipos e preconceitos que giram em torno do envelhecimento do corpo e principalmente da mente. Envelhecimento este que é plural e que realmente não segue um padrão pré definido ou estático, atuando de formas distintas em cada organismo.
Este despertar de consciência está ao nosso alcance e pode fazer toda a diferença.
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