Sexo e sexualidade na terceira idade

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Sexo e sexualidade na terceira idade.

Atualizado em 1 de julho de 2024.

Quando pensamos na terceira idade, muitas vezes associamos essa fase da vida a limitações físicas e declínio da saúde. No entanto, uma área frequentemente negligenciada e envolta em tabus é a sexualidade e, por que não, o sexo entre pessoas idosas.

O sexo entre idosos pode ser uma experiência gratificante e satisfatória, embora possa envolver algumas mudanças e adaptações em comparação com as fases mais jovens da vida. É importante abordar este tema com sensibilidade e respeito e entender que o sexo e a sexualidade podem até ganhar uma nova forma nessa fase da vida.

Sendo assim, é hora de desmistificar esse assunto e deixar os preconceitos de lado e reconhecer que o desejo e a intimidade não têm prazo de validade e fazem parte da vida de todos nós.

O tabu do sexo entre idosos é um dos mais fortes em nossa sociedade.

A sociedade em que vivemos está acostumada a relacionar sexo com juventude, vigor e beleza. Muito disso vem das representações estereotipadas do cinema, televisão e da indústria pornô sobre a sexualidade, componente e característica inerente a todos os seres humanos, independente da idade.

É bom definirmos o que é a sexualidade. De acordo com o Psicólogo Ester Antunes: “É uma necessidade básica do ser humano que se manifesta através do desejo, contato, intimidade, expressão, amor e carinho, como também criação de laços de união mais intensos com outras pessoas, assim desenvolvendo uma comunicação que visa o prazer, o bem-estar e autoestima através de uma relação íntima.”

E por que qualquer um de nós, notadamente os idosos, deveriam se privar de tanta coisa boa? A boa notícia é que não estão se privando e as quatro paredes dos idosos é bem mais agitada do que se pensa.

Nós não nos tornamos assexuados com o avanço da idade.

Embora diferente, a sexualidade e o sexo são parte integrantes da vida dos idosos. A frequência pode diminuir, assim como o próprio conceito do que é sexo pode se expandir, se libertando do paradigma da penetração, como veremos mais para frente.

Os idosos possuem necessidades de prazer e bem-estar semelhantes às de crianças, adolescentes, jovens e adultos. Manter a sexualidade ativa durante o envelhecimento deve ser visto como um direito fundamental e crucial para a qualidade de vida.

De acordo com artigos publicados na The Lancet referente a estudos realizados na Inglaterra, temos os seguintes números:

Entre 60 e 69 anos – 86% dos homens e 60%, relatam serem sexualmente ativos.

Entre 70 a 79 anos – temos 59% dos homens e 34% das mulheres ativos.

Acima de 80 anos – 31% dos homens e 14% das mulheres.

Acima dos 90 anos – 10% das pessoas relatam serem ativos.

Em outro estudo, referente a frequencia, feito com pessoas entre 75 e 85 anos, 54% relataram fazer sexo 2 ou 3 vezes por mês e 23% disseram fazer sexo umas ou mais vezes por semana.

Em um terceiro estudo, feito com pessoas de 65 a 80 anos, dois terços disseram que eram interessados em sexo e mais de 50% afirmaram que o sexo era muito importante para sua qualidade de vida.

Então, como visto, os idosos estão longe de serem assexuados, mesmo que o sexo e a sexualidade assuma diferentes faces com o envelhecimento do corpo.

A expansão do conceito da sexualidade além do ato sexual.

Com a maturidade, ocorre algo único e profundo na percepção que temos sobre o sexo.

Se na juventude e na fase adulta temos a tendência de relacionarmos o ato sexual como a expressão máxima da sexualidade, com o avanço da idade, ganhamos a capacidade de expressar e perceber nossa sexualidade de uma maneira muito mais abrangente.

Deixamos se entender a penetração como o foco da sexualidade, dando espaço para uma grande variedade de sentimentos aflorar, como o carinho, a cumplicidade, a intimidade e o flerte. Claro que o sexo ainda é presente, mas é extrapolado da sua função meramente fisiológica, dando expaço para visão mais holística da sexualidade como um todo!

Cheiros, beijos, toques, abraços e até mesmo o tom de voz assumem uma esfera completamente nova, liberando todos nós para vivenciar a sexualidade e o contato sexual de uma maneira muito mais profunda.

As mudanças físicas que afetam a sexualidade dos idosos.

Devido a presença de comorbidades e mudanças fisiológicas que aparecem com o avanço da idade, podemos citar algumas que impactam na vida sexual a medida em que envelhecemos:

Menopausa e andropausa: As mudanças hormonais, como a menopausa nas mulheres e a andropausa nos homens, podem levar a uma diminuição na libido e alterações na função sexual.

Condições médicas: Doenças crônicas como diabetes, hipertensão, dores crônicas, artrite e doenças cardiovasculares podem afetar a capacidade sexual e o desejo.

Efeitos colaterais de medicamentos: Muitos medicamentos prescritos para tratar condições comuns em idosos podem ter efeitos colaterais que interferem na função sexual, como antidepressivos e medicamentos para pressão alta.

Disfunções sexuais: Problemas como disfunção erétil nos homens e secura vaginal nas mulheres são comuns com o envelhecimento.

O aspecto emocional do sexo na terceira idade.

O aspecto emocional da sexualidade na terceira idade é complexo e multifacetado, influenciado por uma variedade de fatores psicológicos, relacionais e sociais. A seguir, são destacados alguns dos principais aspectos emocionais que podem afetar a sexualidade dos idosos:

Autoestima e imagem corporal

Mudanças físicas: O envelhecimento traz mudanças físicas inevitáveis, como rugas, flacidez da pele e ganho ou perda de peso. Essas mudanças podem afetar a autoestima e a percepção da atratividade pessoal, impactando o desejo e a satisfação sexual.

Aceitação do corpo: Desenvolver uma aceitação positiva do corpo em envelhecimento pode melhorar a autoestima e promover uma atitude mais saudável em relação à sexualidade.

Intimidade e conexão emocional

Profundidade do relacionamento: Para muitos idosos, a sexualidade está fortemente ligada à intimidade emocional e à conexão com o parceiro. Sentimentos de amor, carinho e companheirismo são frequentemente mais valorizados do que o ato sexual em si.

Comunicação: Uma comunicação aberta e honesta sobre desejos, necessidades e limitações pode fortalecer a relação e melhorar a vida sexual.

Impacto de perdas e luto

Perda do parceiro: A perda de um parceiro pode ter um impacto profundo na vida emocional e sexual dos idosos. O luto e a solidão podem reduzir o interesse em buscar novas relações ou retomar a vida sexual.

Processo de luto: Cada pessoa lida com o luto de forma diferente, e é importante respeitar o tempo necessário para se ajustar e, eventualmente, reabrir-se para novas experiências emocionais e sexuais.

Saúde mental na terceira idade

Depressão e ansiedade: Problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade, são comuns entre os idosos e podem diminuir o desejo sexual e a capacidade de desfrutar de intimidade.

Terapia e suporte: O acesso a terapia e suporte psicológico pode ajudar a lidar com esses desafios, melhorando a saúde mental e a qualidade de vida sexual.

O papel da comunidade médica no apoio à sexualidade na terceira idade.

Médicos, claramente, também são suscetíveis a preconceitos e crenças em tabus que podem acabar cerceando a sexualidade na terceira idade.

A preparação da comunidade médica para apoiar a sexualidade dos idosos ainda enfrenta desafios significativos, mas há progressos em várias áreas:

  1. Formação médica: A educação sobre sexualidade na terceira idade é limitada nos currículos médicos, embora programas de educação contínua estejam começando a abordar essa lacuna. É essencial que médicos recebam treinamento adequado para discutir abertamente questões sexuais com pacientes idosos.
  2. Conscientização e sensibilidade: Profissionais de saúde devem superar preconceitos e estigmas relacionados à sexualidade dos idosos. Uma comunicação aberta e sem julgamentos é crucial para oferecer um atendimento de qualidade.
  3. Abordagem multidisciplinar: Uma equipe de saúde que inclua médicos, enfermeiros, psicólogos e terapeutas pode oferecer um suporte mais completo, abordando aspectos físicos e emocionais da sexualidade.
  4. Recursos e referências: A disponibilização de materiais educativos e encaminhamentos para especialistas, como urologistas e terapeutas sexuais, pode melhorar o suporte oferecido aos idosos.
  5. Políticas de saúde: Políticas públicas que promovem a saúde sexual na terceira idade são necessárias para garantir acesso a serviços adequados e inclusivos.
  6. Pesquisa e desenvolvimento: Investir em pesquisas sobre sexualidade na terceira idade e no desenvolvimento de novos tratamentos pode informar melhores práticas e melhorar a qualidade de vida dos idosos.

Apesar dos avanços, é necessário um esforço contínuo para que a comunidade médica esteja totalmente preparada para apoiar a sexualidade dos idosos de forma abrangente e sensível. Mas isso muda rapidamente, afinal de contas os médicos jovens de hoje, levarão para a sua vida essa nova percepção do sexo e sexualidade a medida em que envelhecem.

Os benefícios de nutrirmos o sexo e a sexualidade na terceira idade.

A sexualidade na terceira idade oferece inúmeros benefícios para a saúde física, emocional e mental. Aqui estão alguns dos principais benefícios:

Saúde física

Melhora do sistema cardiovascular: A atividade sexual, mesmo que adaptada à idade, pode melhorar a saúde do coração e a circulação sanguínea.

Fortalecimento do sistema Imunológico: A prática sexual pode fortalecer o sistema imunológico, ajudando a combater doenças e infecções.

Alívio da dor: A liberação de endorfinas durante o sexo pode atuar como um analgésico natural, ajudando a reduzir dores e desconfortos físicos.

Saúde emocional

Redução do estresse e ansiedade: A intimidade e o prazer sexual podem reduzir os níveis de estresse e ansiedade, promovendo uma sensação de bem-estar e relaxamento.

Melhora da autoestima: Sentir-se desejado e amado pode aumentar a autoestima e a autoconfiança, contribuindo para uma visão mais positiva de si mesmo.

Saúde mental

Melhora do humor: A atividade sexual estimula a produção de hormônios como a dopamina e a serotonina, que são conhecidos por melhorar o humor e proporcionar uma sensação de felicidade.

Prevenção de depressão: A intimidade e a conexão emocional com um parceiro podem ajudar a prevenir ou aliviar sintomas de depressão.

Conexão social e relacional

Fortalecimento dos laços: A sexualidade pode fortalecer os laços entre parceiros, promovendo maior intimidade, compreensão e apoio mútuo.

Sentimento de companheirismo: A presença de uma vida sexual ativa pode fortalecer o sentimento de companheirismo e reduzir a sensação de solidão.

Manutenção da função cognitiva

A atividade sexual pode estimular a função cerebral, ajudando a manter a mente ativa e contribuindo para a saúde cognitiva.

A sexualidade na terceira idade é uma parte vital da saúde e bem-estar, e reconhecer sua importância é fundamental.

À medida que envelhecemos, a intimidade e a conexão emocional continuam a desempenhar um papel crucial na nossa qualidade de vida. Superar estigmas e preconceitos em relação à sexualidade dos idosos é essencial para promover uma visão mais inclusiva e compreensiva.

Ao valorizar a comunicação aberta, a aceitação das mudanças naturais do corpo e o apoio emocional, podemos ajudar a criar um ambiente onde nos sintamos confortáveis para expressar e explorar a sexualidade em qualquer idade.

Recursos educativos e um maior entendimento sobre as necessidades específicas dessa fase da vida são fundamentais para garantir que todos tenhamos a oportunidade de viver uma vida sexual saudável e gratificante.

A sexualidade não tem data de validade, e é nosso dever como sociedade apoiar e celebrar essa parte essencial da experiência humana em todas as fases da vida.

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