Viuvez e luto. Entenda como ajudar.

O luto pode ser destruidor. Saiba como ajudar.

Atualizado em 11 de novembro de 2021.

A perda de um cônjuge é um processo doloroso em qualquer idade. O impacto da morte pode tomar grandes dimensões e ser devastador. Não raro, leva a uma depressão fatal. Por isso, entender o luto na viuvez é um passo importante para conseguir ajudar.

A população viúva é predominantemente idosa e feminina. Isso ocorre devido a maior expectativa de vida da mulher e que, no geral, casais são formados por esposas mais jovens que os maridos.

Entendendo o luto

A morte do companheiro traz um sentimento de vazio profundo e desorientação. É como se uma parte de si também deixasse de existir. Diversos fatores como os pessoais, circunstanciais e culturais podem estar relacionados com a contribuição ou dificuldade em elaborar e expressar a dor referente à perda do cônjuge.

Há fatores que podem aumentar ou minimizar as dores da perda. Tempo de convivência, o grau de cumplicidade, se era um bom relacionamento, se havia harmonia, se havia mais pessoas morando com o casal, e até mesmo a personalidade da pessoa viúva.

Quanto maior a trajetória lado a lado, mais momentos a lembrar e maior a cumplicidade, conquistas e derrotas, ou seja, toda uma história conjunta. Os papéis e costumes desenvolvidos por um casal no decorrer de um longo matrimônio se desfazem com a morte do parceiro. E esta nova realidade exige uma “reconfiguração da vida” de quem fica, seja afetiva, social, familiar ou de rotina.

O processo de luto afeta não só o emocional. A pessoa viúva também fica suscetível ao surgimento de doenças físicas, já que todo o emocional está desorganizado, abrindo as portas para a somatização dos sentimentos em consequências no corpo humano.

Quanto tempo dura o luto na viuvez?

O tempo torna-se um aliado no alívio da dor e sofrimento, gerado pela falta do convívio decorrente da morte.

A pessoa enlutada entra em um estado de recolhimento, onde passa por uma trajetória emocional complexa, logo após a perda.

Durante esse tempo, é comum que a pessoa sinta-se muito triste, tenha crises de choro, se recuse a sair de casa e perca o interesse em atividades que antes davam prazer.

No período de luto, manifestações decorrentes do processo de perda podem ser representadas por raiva, culpa, protesto, amargura e auto-acusação que podem ser mantidas até a recuperação do processo de luto, de encontro com a aquisição de uma nova identidade do enlutado.

Segundo a psiquiatria, o luto costuma durar de 1 a 2 anos e passar por 5 estágios:

  1. Negação

    Normalmente, a reação imediata ao ouvir a notícia da morte de alguém amado é rejeitá-la. A pessoa enlutada não acredita nem quer tentar acreditar na possibilidade de ter perdido um ente querido, então, rejeita a própria realidade.

    A negação, neste caso, tem como objetivo protegê-la de uma verdade inconveniente, a qual pode desestruturá-la psicologicamente.É comum que a pessoa enlutada busque o isolamento social e o distanciamento de tudo que lembre o indivíduo que partiu, neste período.

  2. Raiva

    Sentimentos de raiva, angústia, desespero, medo, culpa e frustração se manifestam constantemente. Este turbilhão domina a mente da pessoa enlutada, fazendo-a ter condutas ríspidas e desagradáveis. Quando alguém tenta trazê-la para realidade, ela reage com agressividade, ainda incapaz de aceitar a perda. É possível que a pessoa em luto expresse a sua raiva por meio de atitudes autodestrutivas, como beber exageradamente, brigar com desconhecidos e destruir propriedade alheia. Como está transtornada, ela não compreende a gravidade de suas ações. Neste estágio também é comum a pessoa se vitimizar.

  3. Barganha ou Negociação

    Esta fase do luto se constitui por negociações. A pessoa enlutada negocia consigo mesma ou com a entidade superior em que acredita na tentativa desesperada de aliviar a sua dor. Pensamentos como “se eu tivesse feito isso” ou de “se eu fizer alguma coisa, posso reverter a situação” rondam a mente da pessoa em luto.

    Mesmo que ela tenha consciência da impossibilidade desses feitos, ela inconscientemente os alimenta para consolar a si mesma.

  4. Depressão

    Uma das fases do luto mais intensas é a depressão. A pessoa é acometida por um grande sofrimento, o qual pode se prolongar por semanas ou meses. Ela se apega à dor causada pela partida do ente querido, usando-a como combustível para permanecer em estado depressivo.Assim, a pessoa enlutada chora copiosamente, repensa as suas decisões e experiências de vida, se isola de familiares e amigos, tem crises de saudade e não consegue retomar à vida normal da mesma maneira que antes.Este estágio do luto requer muita conversa e apoio de pessoas próximas, além de acompanhamento psicológico. A pessoa em luto pode acabar desenvolvendo um transtorno de depressão profundo e não conseguir chegar ao estágio de aceitação da morte.

    Além da perda, a pessoa idosa também passa a ter confrontos com a morte e a finitude da própria vida. Alguns querem apressar este momento, na esperança de encontrar com seu amor que partiu. Outros passam a entender que seu fim de vida também está próximo, causando angústias e aumentando o estado depressivo.

  5. Aceitação

    A aceitação é a última etapa do luto, mesmo quando os estágios anteriores não foram lineares.

    É neste momento que a pessoa enlutada compreende a sua nova realidade, constituída pela ausência de quem partiu. Os sentimentos e angústias já foram externalizados, resultando em uma sensação de paz interior. 

    Aceitar a perda não significa seguir a vida como se a pessoa amada nunca tivesse existido. Não é esquecer os momentos bons partilhados com ela nem enterrar lembranças calorosas em um canto da mente. A saudade ainda vai mexer com as emoções e a pessoa amada ainda vai visitar os pensamentos, mesmo anos após a sua partida. 

Entenda como ajudar uma pessoa em luto

O luto é um processo compreensível para o enfrentamento de situações dramáticas como a perda de um ente querido. Apesar de dolorido, é primordial para a reorganização da vida de quem fica.

Para que a viuvez não represente o fim de uma vida feliz, torna-se essencial o apoio familiar.

Logo após a morte, é comum a família dobrar a atenção e cuidados com a pessoa viúva, mas, com o passar dos dias, os familiares vão retomando sua rotina e compromissos pessoais. Vimos que o processo de luto é lento, ainda mais se o cônjuge passa a morar sozinho(a). É necessário apoio familiar integral durante todas as etapas, não apenas após o falecimento. 

Familiares e amigos próximos são peças fundamentais para motivar a reconstruir a vida. Isso pode ser entendido através do contato com outras pessoas, uma atividade física, uma ocupação que leve ao sentimento de utilidade perante a sociedade.

Estudos mostram que tarefas psicossociais também são primordiais para o ajustamento à viuvez. No caso de mulheres viúvas, caracteriza-se comumente por três fases:

  1. Como tarefa inicial, é importante buscar desatar os laços com o companheiro, admitir a sua morte e transformar as experiências compartilhadas em lembranças;
  2. Após aproximadamente um ano, a atenção costuma se voltar ao funcionamento do cotidiano e aos afazeres domésticos;
  3. Passados um ou dois anos da perda do cônjuge, são realinhados os relacionamentos no sistema familiar e a viúva costuma buscar novas atividades, bem como retoma o interesse por outras pessoas.

O luto é um processo complexo e cada um sabe entender seu tempo de dor e reclusão. O mais importante é entender os sentimentos da pessoa que ficou e dar espaço para que ela “vivencie o luto”. Porém, é necessário estar apoiando e incentivando durante todo este processo. 

Lembre-se: A saudades será eterna, mas o luto deve ser um estágio provisório. A pessoa viúva está emocionalmente fragilizada. Ofereça acolhimento e proteção, mas também o incentive a voltar para os prazeres da vida e às pessoas que aqui ainda estão.

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