Os perigos da interação medicamentosa

,
Os perigos da interação medicamentosa

Atualizado em 28 de julho de 2022.

Interação medicamentosa é um evento clínico que caracteriza-se pela interferência de um medicamento, alimento ou droga na absorção, ação ou eliminação de outro medicamento. Ou seja, a depender do medicamento, caso seja ingerido junto com um ou mais desses itens, é possível que a sua reação não obtenha os resultados esperados.

Os efeitos adversos são indesejáveis, desconfortáveis e perigosos, já que podem causar um quadro de internação e até mesmo óbito. Os sintomas mais comuns são reações alérgicas, sedação excessiva, confusão, alucinação, queda e sangramento.

Os tipos de interações medicamentosas

Medicamento-Medicamento

Problemas relacionados aos fármacos são comuns e incluem ineficácia, efeitos adversos, superdosagem e subdosagem, quando interagem entre si.

A maioria dos eventos mais graves envolvem 4 fármacos ou classes destes fármacos: varfarina, insulina, antiplaquetários orais e hipoglicemiantes orais. A incidência também é comum em medicamentos de uso psiquiátrico, como antipsicóticos, antidepressivos e sedativos hipnóticos.

Medicamento-Alimento

Até mesmo os alimentos podem interferir na ação de um medicamento. Isso porque os alimentos afetam diretamente no funcionamento do sistema digestório, que levam à alterações na secreção biliar e enzimática. Também interferem no tempo de absorção do medicamento, no esvaziamento gástrico, no ciclo intestinal e no fluxo sanguíneo, levando à falha no tratamento ou a um elevado risco de efeitos colaterais.

Como exemplos, leite e seus derivados, alguns tipos de chás e ervas, sal, cafeína, frutas cítricas, em especial, a toranja, que inibe o metabolismo do CYP3A, uma importante enzima presente no intestino e fígado.

Medicamento-Drogas

Drogas ilícitas, cigarros e bebidas alcoólicas são substâncias que, sozinhas, já trazem malefícios enormes aos sistemas orgânicos. Ao serem associadas com outros medicamentos, os riscos ficam ainda mais potencializados.

Interação medicamentosa em idosos

Os efeitos adversos da interação medicamentosa podem ocorrer em qualquer paciente, mas certas características dos idosos os tornam mais suscetíveis, como o uso regular de muitos fármacos, além da saúde mais frágil e a maior dificuldade em manter a homeostase.

As razões também envolvem a comunicação inadequada do paciente com os profissionais da área de saúde, particularmente nas transições de cuidados à saúde.

Um determinado fármaco administrado para tratar certa doença pode exacerbar outra doença, independentemente da idade do paciente, mas tais interações devem ser especialmente consideradas nos idosos. A distinção, muitas vezes sutil, entre os efeitos adversos dos fármacos e os da doença é difícil de ser identificada e pode levar a uma “cascata de prescrições”.

A cascata de prescrição ocorre quando o efeito adverso de determinado fármaco é interpretado de maneira equivocada como um sintoma ou sinal de um novo distúrbio, e se prescreve um novo fármaco para seu tratamento. O novo (e desnecessário) fármaco pode causar efeitos adversos adicionais, que podem ainda ser novamente interpretados de maneira equivocada como outro distúrbio, sendo tratado desnecessariamente, e assim sucessivamente.

Vários medicamentos têm efeitos adversos que lembram os sintomas de doenças comuns em idosos ou alterações causadas pelo envelhecimento.

Também é comum que idosos façam uso de ervas medicinais, suplementos dietéticos, drogas, mas não relatam o fato aos seus provedores de cuidados de saúde.

As drogas lícitas e ilícitas e algumas ervas medicinais podem interagir com os fármacos prescritos e provocar efeitos adversos. Portanto, os médicos devem questionar os pacientes especificamente sobre os suplementos alimentares, inclusive as ervas medicinais e suplementos vitamínicos.

Monitoramento inadequado

A maioria dos casos de interação medicamentosa ocorrem devido à falta de monitoramento do uso dos fármacos. Muitas vezes, o paciente é assistido por especialidades médicas diferentes, que podem prescrever suas receitas sem ter conhecimento das medicações que o paciente já faz uso.

Alguns cuidados podem evitar este tipo de ocorrência:

  • Documentar a receita médica para cada fármaco receitado;
  • Manter uma lista atualizada de fármacos usados para cada paciente;
  • Monitorar o resultado dos objetivos terapêuticos e outras respostas aos novos fármacos;
  • Monitorar as necessidades de exames laboratoriais para a eficácia ou efeitos adversos;
  • Revisar periodicamente as necessidades de uso contínuo.

Tais medidas são especialmente importantes para os pacientes idosos. A falta de monitoramento eficaz, especialmente após a prescrição de novos fármacos aumenta o risco de efeitos adversos e a ineficácia do fármaco.

Se possível, centralize as informações em um médico de confiança que possa compartilhar as informações e fazer a ponte com os outros profissionais envolvidos.

O Brasil é conhecidamente um dos países mais adeptos da automedicação no mundo

Uma pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), por meio do Instituto Datafolha, constatou que a automedicação é um hábito comum a 77% dos brasileiros que fizeram uso de medicamentos nos últimos seis meses.

O ato de se automedicar pode provocar consequências graves, como causar interações medicamentosas, reações alérgicas, dependência e até mesmo o óbito. Muitas vezes, a automedicação camufla o estado do paciente e cria uma falsa ideia de alívio do sintoma, o que dificulta o diagnóstico correto de alguma outra patologia.

No caso dos idosos, a atenção deve ser redobrada, já que suas funções vitais costumam ser mais frágeis com relação a uma pessoa jovem. Entre os principais riscos da automedicação em idosos, estão:

  • Diminuição da função do fígado e dos rins, que são órgãos fundamentais no metabolismo e na eliminação das substâncias;
  • Interferência no tratamento de doenças crônicas, anulando ou até aumentando o efeito dos medicamentos utilizados;
  • Aumento de problemas mais sérios e recorrentes, como arritmia cardíaca, provocando as famosas quedas;
  • Redução do fluxo de sangue e aumento da pressão;
  • Redução da absorção de substâncias como cálcio e ferro essenciais nesta fase;
  • Dependência química do fármaco.

Também é importante ficar atento se o idoso está se automedicando de forma consciente ou não. Muitas vezes, eles podem confundir a dosagem e até mesmo a finalidade de cada fármaco. Caso esta situação seja confirmada, é importante ter uma pessoa responsável para administrar a rotina medicamentosa.

Dicas para evitar a interação medicamentosa

O uso de medicamentos associados merece atenção. Fique atento a estas dicas:

  • Um fármaco é considerado inadequado quando o potencial de dano é maior que o de benefício;
  • Muitos fármacos são mantidos erroneamente em uso contínuo, mesmo depois da resolução da condição aguda. Após o período de tratamento, suspenda o uso;
  • Algumas classes de fármacos são de especial preocupação em idosos. Alguns são tão problemáticos que devem ser evitados em qualquer circunstância;
  • O caso realmente exige tratamento medicamentoso? Alguns fármacos frequentemente prescritos para sintomas leves (como analgésicos, hipnóticos ou laxantes) podem ser resolvidos com tratamentos não farmacológicos, como alimentos e tratamentos terapêuticos;
  • Diga não à automedicação. O uso de remédios de maneira incorreta ou irracional pode trazer consequências como intoxicação, reações alérgicas, dependência e até óbito.

Soluções

A solução para o uso inadequado de medicamentos requer mais do que só fazer uso de poucos remédios e ter atenção às categorias de fármacos preocupantes.

É preciso avaliar regularmente o tratamento farmacológico como um todo para determinar a necessidade de se continuar um determinado fármaco, bem como o potencial benéfico em relação aos danos.

A eficácia também é comprometida pela adesão do paciente idoso ao tratamento. Muitos não fazem uso dos fármacos indicados, seja por negligência ou inacessibilidade aos medicamentos, podendo interferir na ação do medicamento que está em uso regular.

Eles também podem se confundir com as dosagens, frequências, ou não saber diferenciar os medicamentos que tenham em posse.

É sempre importante manter uma comunicação honesta com toda a equipe médica e multidisciplinar, informando sua rotina alimentar, se faz uso de alguma droga, incluindo o consumo, a quantidade e a frequência do uso de remédios.E, no caso de idosos, é sempre importante o acompanhamento de um cuidador, seja familiar ou profissional, para ministrar adequadamente o uso dos medicamentos.

2 respostas
  1. Silvio Luis de Saldanha da Gama
    Silvio Luis de Saldanha da Gama says:

    Muito interessante e de muita valia para conhecer esse assunto que normalmente não damos ou prestamos atenção, por desconhecimento ou negligência no interesse de estar melhor informado. Me chamou a atenção e li a matéria com especial atenção.

    Responder

Deixe uma resposta

Quer compartilhar sua opinião?
Envie aqui seu comentário!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *